Hoje é dia de despedida.
Minha pequena Glenda foi embora. Desde ontem à noite já comecei a chorar, assistia final de Big Brother chorando e demorei a dormir sofrendo. Minha pequena tinha bronquite crônica desde final de 2010. Toda hora tentávamos medicações diferentes, nebulizações, homeopatia até, mas nada deu jeito. A idade foi chegando, ela foi perdendo a visão e me doía ver aquela pequena cheia de vida começando a esbarrar nas coisas pelas casas. Ficou com um coração tão grande que desviou a traquéia, mas os cardiologistas disseram que não era nada grave. Bom, no dia 22 de novembro do ano passado a levei para tomar todas as vacinas e pegar oi atestado para viajarmos para Arraial do Cabo e percebi um "osso" maior do que o da outra costela. O vet Fernando cutucou, cutucou e chegou à conclusão que era o último ossinho da costela flutuante. Viajamos e comecei a notar um aumento do lado esquerdo dela e supersonicamente virou um tumor gigante. E eu me perguntava, lógico, por que com ela que sempre foi tão saudável a vida inteirinha? E por que eu passar por isso, não que eu seja mais especial do que qualquer outra pessoa, pelo contrário, justamente por ser eu a mais fraca das criaturas. Eu perco o chão e não sei o que fazer quando as pessoas estão doentes ao meu redor. Eu, quando ia ao veterinário e chegava um bichinho passando mal chorava e chorava e chorava na sala de espera e quando entrava no consultório era consolada pelos veterinários por conta dos bichinhos dos outros... como eu poderia ter suportado assistir minha pequena definhando? Eu não sei! Perguntei muitas vezes à Deus, a São Francisco de Assis... ela tinha 14 anos, estava na hora, embora pudesse sim ser um pouco mais tarde, porém os cãezinhos dos meus vizinhos, dos meus tios nunca morreram assim com tanto sofrimento, morriam à noite de uma hora para outra do coração. Eu sei que não haveria jeito fácil, mas vi minha pequena definhar e ficar até com os ossinhos da face para fora como se fosse um animalzinho maltratado. Ela não chorava, o vet mesmo disse que ela não estava sentindo dor então que não mexesse pois pelo histórico de doenças atuais e idade seria um estresse desnecessário para ela, ainda mais tamanha a rapidez daquela coisa ter crescido. EnTão não tive escolha, mas não sei se por egoísmo acabei fazendo ela passar por dor. Esta semana já estava picando comida e enfiando pela boca, dando água na boca de colherzão... mas ontem senti que a coisa não ia mais a frente, entreguei à Deus, Maria, Sâo FRancisco de Assis e chorei muito. Fui trabalhar muito, muito, muito mal. As colegas começaram a perguntar o que eu tinha eu querendo evitar o choro para conseguir dar aula pedi que não forçassem, que eu não queria falar e elas brincando insistindo, acabei surtando e aos prantos gritando com elas "A Glenda, está morrendo, caralho!" Sim, foi constrangedor, sim atingi todo meu limite de fraqueza humana bem ali e sei que as coisas ficarão abaladas por um tempo, porque foi bem chato.
Na sala de aula ainda chorei mais duas vezes na frente das crianças.
Eles hoje ficaram quietos e solidários.
Cheguei em casa e ela não estava na sala. Minha mãe olhava para ela no chão da cozinha deitada tremendo e babando. Peguei, botei uma roupinha e levei pro Vet decidida a pôr fim no sofrimento dela, coisa que sempre fui radicalmente contra, até por isso nunca nem cogitei fazer Medicina Veterinária, mas precisava engolir meu egoísmo, porque isso se tornara um egoísmo de minha parte. Desci chorando, ela deu dois gritinhos, fui acalmando, passávamos pela rua todo mundo olhando com dó para nós duas, perguntando, excclamando... foi quando senti ela mais molinha no meu colo, olhei e ela estava partindo. Nem deu para chegar ao vet. Alunos da minha escola passando no transporte me viram e ela no meu colo e começaram a gritar "Ai, o que é isso? O que é isso?" e eu comecei a chorar muito copiosamente, pessoas chamando, carros buzinando, provavelmente querendo ajudar vendo a cena. A vet passou de carro e me viu indo em direção a clínica e ligou para o marido que lá estava para avisar. Quando cheguei desabei estendendo minha pequena toda molinha na mesa. Ele me consolou e até ele que é o mais frio dos dois se mostrou abalado, sou cliente muita antiga cheia de histórias com elas. Me abraçou, me beijou a cabeça e me despedi dela, largando ela na mesinha para ser congelada e depois cremada. Fim.
Fim?
Voltei para casa com as pessoas que me viram pela rua perguntando se ela havia morrido. Eu segurando a roupinha enrolada nas mãos e enxugando minhas lágrimas com ela. Em casa, minha mãe me deu calmante e acabou o scrap do feriadão. Tomei banho, deitei sem almoçar, chorei muito e cansada dormi. Aqui estou na cama ainda, chorando ainda. Dói muito. Passou a hora do remédio, já ia me levantando para dar o remédio e a comida na boca quando me dei conta. Parece que ela está ali na sala, só que não. POr quantos dias vai ser assim?
Não posso dizer que minha vida acabou porque sei que não é assim. As duas me deram dias para me recuperar morrendo em véspera de feriado...quer dizer, Deus me deu esta pausa, ou seria impossível. POrém estou sempre aparecebdo sorrindo, rindo, brincando muito, mas a verdade é um imenso vazio em minha vida. Eu não me casei, eu não tive filho, eu não tenho nenhum amigo de verdade.Tudo que me resta é minha mãe, alguns poucos parentes mais distantes, outros se aproximando mais, mas nenhum amigo de verdade. Tenho apenas colegas e conhecidos que tem certo carinho por mim, mas não fazem parte da minha vida, do meu dia a dia. Minhas pequenas eram minhas grandes companheiras, amigas, filhinhas. Preenchiam muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuitos buracos, muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuitas lacunas e eis me aqui agora com mais buracos, mais lacunas, mais vazio do que antes.
A dor maior de hoje é ficar pensando que nunca vou vê=la, abraçá-la, tê-la nos braços. Brincar com ela, fotografá-la ou fazer meus desabafos. Ela está lá no vet, seu corpinho sem vida e eu aqui com uma vida a frente cheia de interrogações.
Oh, Glenda, te amo muito! Você roubou meu coração! Antes era a GRace e você mais grudada com minha mãe, mas depois você foi se chegando e me roubou totalmente. Eu queria ter tido mais dias para te curtir minha pequenina, mas eu fico aliviada por sua dor, sua luta ter tido fim. Acima de tudo rogo à DEus que vocês me recebam no Céu um dia, se um dia me for merecido isso junto com meu pai, meus avós e meu padrinho. Sempre digo e continuo a dizer que um Paraiso sem bichinhos para mim serpa apenas mais um limbo.
Eu preciso acreditar que você foi com Deus e estará logo com sua irmãzinha, mas agora sem atacá-la mais.
Eu te amo muito e sempre.